Os Desafios e Pressões sobre o(a) Novo(a) Advogadoa)
Por outro lado, a principal função do advogado que é traçar uma estratégia para a solução do desafio jurídico por meio de sua capacidade de análise das informações (prestadas pelo cliente e existentes na legislação, jurisprudência etc.), seu intelecto e experiência na síntese de suas ideias, sua habilidade na elaboração dos argumentos e por final a qualidade de sua expressão oral ou escrita na elaboração dos documentos jurídicos ou sustentações orais ainda dependem do cérebro humano, com todas as suas limitações.
Outros fatores que também desafiam e pressionam cada vez mais a profissão da advocacia: a eficácia que é a pressão exercida pelos clientes para que suas soluções sejam corretas e cada vez mais rápidas e a concorrência que é a pressão exercida pelo mercado forçando os profissionais a gerirem melhor seus custos e oferecerem serviços a preços mais competitivos.
O grande diferenciador no passado era a qualidade (lembro que há duas décadas, existiam poucos escritórios corporativos com qualidade internacional no Brasil) e atualmente existem centenas de ótimos escritórios concorrendo num mercado onde o aumento da demanda foi significativamente menor que o aumento expressivo da oferta de serviços jurídicos de qualidade.
Com a mudança no comportamento do mercado jurídico, tornando-se mais musculoso e maduro (se aproximando do comportamento dos outros mercados competitivos), a percepção da qualidade geral do serviço prestado se dá por um mescla de fatores onde a qualidade jurídica, apesar de ainda ser o mais importante, não é mais o único fator de diferenciação. Outros fatores como atendimento, responsividade, entendimento do negócio do cliente, capacidade gerencial, inovação, uso de tecnologia e finalmente imagem da marca também interferem diretamente na satisfação do cliente
Como se tudo isso não bastasse, ainda existe a pressão exercida pela própria mudança no comportamento da sociedade, cada vez mais conectada com tudo, todos e ao mesmo tempo, gerando mais e mais a sensação de urgência e expectativa por resultados imediatos em toda ela.
Nas três vertentes possíveis da carreira do Direito, ou seja, carreira pública, carreira empresarial corporativa ou ainda carreira solo em escritórios, os conhecimentos em gestão e governança e atualização tecnológica se tornaram tão importantes quanto o desenvolvimento técnico jurídico. A tecnologia é encarada pelo advogado (e não poderia ser de outra forma) como meio e não como fim e deve ser utilizada como uma ferramenta poderosíssima para melhoria da eficiência e eficácia na profissão.
Cada vez mais está se dividindo as especializações do Direito pelos ramos da economia (Tecnologia, Comunicação, Agronegócio, Life Sciences, etc.) e não mais pela forma tradicional, ou seja, Cível, Trabalhista, Tributário, etc.
O advogado mais completo e mais competitivo deverá estar preparado para os desafios de sua profissão, além do conhecimento jurídico deverá conhecer profundamente o mercado para o qual presta serviços, mas também:
Conhecimentos Gerenciais: conhecer e saber utilizar as técnicas de gestão de uma empresa moderna inserida no mercado competitivo.
– Conhecimentos mais abrangentes em matérias associadas às relações humanas de modo a gerenciar melhor sua equipe e seus talentos pela adoção de desafios motivadores e utilização “KPI´s” específicos além de planos de carreira moderno e adaptado à novas gerações.
– Melhores conhecimentos de Marketing institucional e pessoal de modo a incrementar sua participação no mercado por meio das modernas técnicas de participação e projeção na mídia digital.
– Melhor formação em gestão empresarial para gerir econômica, financeira e estrategicamente sua empresa com auxílio de softwares de ERP, BI, etc.
Atualização Tecnológica: conhecer e saber utilizar as novas tecnologias, sabendo extrair delas o máximo proveito para:
– Encontrar agilmente as informações necessárias à produção de seu documento jurídico pela ajuda de robôs de busca e/ou softwares de inteligência cognitiva.
– Organizar e utilizar corretamente seu conhecimento estratégico (explicito e tácito), com utilização de sistemas de Gestão do Conhecimento (KM).
– Usar intensivamente sistemas de predição, analisando estatisticamente dados internos e externos, jurisprudências e decisões anteriores de tribunais e magistrados.
– Utilizar as tecnologias de geração de seus documentos por meio de softwares de “document automation” agilizando a produção e análise de documentos.
– Utilizar modernas ferramentas de comunicação e de colaboração interna entre seus profissionais e externas com clientes e parceiros, visando sempre o aumento da eficiência e produtividade.
Apesar da tecnologia ser apenas uma ferramenta, todas as atividades jurídicas ou gerenciais serão utilizadas e geridas por advogados com auxílio de softwares e sistemas inteligentes o que exigirá dos mesmos uma formação muito mais eclética, muito além da formação puramente técnica a que tais profissionais estão sendo submetidos nas universidades atualmente, para não correr o risco de se tornar um profissional jurássico!
José Paulo Graciotti é consultor, autor do livro “Governança Estratégica para escritórios de Advocacia”, sócio da GRACIOTTI Assessoria Empresarial, membro da ILTA– International Legal Technology Association e da ALA – Association of Legal Administrators. Há mais de 28 anos implanta e gerencia escritórios de advocacia – www.graciotti.com.br